segunda-feira, 12 de março de 2012

Saída de Ricardo Teixeira da presidência da CBF e do COL repercute na imprensa esportiva



A manhã desta segunda-feira (12/3) começou agitada no meio esportivo. Ricardo Teixeira (64) renunciou, por carta, a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014.

Teixeira esteve à frente da CBF durante 23 anos e enfrentava problemas dentro e fora dos campos. Nos gramados, encarava os tropeços da Seleção Brasileira eliminada das duas últimas Copas e da Copa América ainda nas quartas de final. Fora do campo, encarava novas denúncias de corrupção.



Na última quinta-feira (15/3), Teixeira havia pedido licença temporária do cargo alegando problemas de saúde. Nesta segunda, em uma carta lida no Rio de Janeiro por seu sucessor, José Maria Marin (79), Teixeira renunciou dizendo que vai cuidar da saúde e ficar com a família. Marin, que ficou conhecido ao ser flagrado por câmeras de TV colocando uma das medalhas da premiação do título da Copa São Paulo de juniores, cumprirá o restante do mandato até 2015. Além disso, herderá o cargo no COL.




A saída de Teixeira repercutiu na imprensa esportiva. IMPRENSA falou com alguns dos principais jornalistas esportivos do país que opinaram sobre as mudanças na CBF a partir da troca de presidente.

O jornalista Fernando Vanucci, ex-apresentador do "Bola na Rede" da Rede TV!, comenta que a saída de Ricardo Teixeira já estava anunciada com pedido de licença da última quinta. "Acho que não é surpresa para ninguém. Era previsível, não só pelo estado de saúde - e a gente tem que acreditar nisso até que prove o contrário -, mas pelas denúncias daqui e das que vêm de fora".

Por essa razão, Vanucci relembra que embora Ricardo Teixeira tenha deixado a entidade é preciso continuar as investigações contra ele. "O Teixeira saiu, mas as denúncias não. Tem que ser apurado e esclarecido. A imprensa tem que continuar em cima, respeitando o estado de saúde dele, claro".

Para o apresentador da TV Bandeirantes Milton Neves o ex-presidente da CBF deveria ter convocado uma coletiva para anunciar sua saída. "Para renunciar ele que tinha que convocar coletiva e falar. Não tinha pedir para um subalterno anunciar para o país e para o mundo [que estava saindo]. Já que ficou 23 anos na CBF ele tinha que ter dito".




Milton Neves acrescenta reforçando que se a atitude de Teixeira foi sair do foco para evitar as investigações, ele está enganado. "Se ele espera que saindo do noticiário a imprensa vai esquecer dele, ao contrário da política,a imprensa esportiva não vai. Claro que parcialmente ele vai sumir, mas se ele espera que com sua renúncia as autoridades arrefeçam seus ânimos, ele está enganado".

Juca Kfouri, da Folha de S.Paulo e da ESPN Brasil, ressaltou que “é essencial que as pessoas levem em consideração de que o problema do futebol brasileiro é estrutural e não pessoal. O que está acontecendo é uma troca de seis por meia dúzia. Mas é uma vitória da cidadania. De que a sociedade brasileira tenha contigo que, ou os clubes de futebol tomam para si o processo de mudança, ou continuarão da mesma forma”.

Kfouri revela que a situação do futebol brasileiro pode mudar somente se o clubes aproveitarem este momento. “Algo só pode mudar se os clubes aproveitarem esse vácuo. Esse Marin que assumiu não tem condições de colocar uma mudança adiante. É preciso mudar o jeito de escolher o comando. Fundar a liga dos clubes, o que se fez na Europa inteira. O fundamento é esse”.

Para Paulo Vinicius Coelho, comentarista dos canais ESPN e da Rádio Estadão ESPN, a renúncia de Ricardo Teixeira estava anunciada desde julho do ano passado, embora a informação só tenha vindo à tona na semana do Carnaval. O jornalista ressalta que "o último ato dele [Ricardo Teixeira] é um ato de covardia porque para o futebol brasileiro, a médio prazo, vai fazer bem, vai produzir modernidade, ruptura de alguns elos da rede de poder que ele tinha. Por outro lado, ele armou o circo e fugiu".




Na opinião de Mauro Beting, comentarista de futebol da Rádio e TV Bandeirantes, "a 'renovação', com todas as aspas, será feita por alguém sem a mesma capacidade que ele, para o bem e para o mal [alusão a José Maria Marin]. É mais ou menos como a Primavera Árabe. Bom, legal, ganhamos alguma coisa com a saída dele, mas o que vem pela frente? Eu não sei, mas pela mudança, não dá para discutir muito".

Outro ponto importante para a saída de Ricardo Teixeira foram as denúncias feitas pela imprensa nacional e internacional. À IMPRENSA, o apresentador e narrador da Sportv, Milton Leite, ressaltou isso. "O Ricardo Teixeira perdeu muito espaço, sobretudo pelas divergências com a presidente Dilma. Acredito que a imprensa teve papel fundamental para o isolamento político dele especialmente pelas denúncias das possíveis irregularidades na gestão da CBF. A imprensa internacional também teve papel importante, ao repercutir o que vinha sendo publicado na imprensa nacional, acabou enfraquecendo sua posição no cenário externo e gerando também uma animosidade por parte da Fifa em relação à gestão de Teixeira. De qualquer forma, acho que não muda nada porque quem fica são os mesmos, é o grupo dele. Talvez depois da Copa, com as eleições na CBF um outro grupo possa assumir e mudar alguma coisa”





Juca Kfouri também reforçou o papel da imprensa na saída de Teixeira da CBF. “A imprensa foi importante porque a publicação de várias coisas foi causando um desgaste. Foram denúncias por parte da Folha que realmente geraram muito desgaste. Mas um marco foi a matéria da Daniela Pinheiro na revista Piauí. Ali, ela revela a arrogância e os excessos de Teixeira. Mostra sua figura de todo poderoso que cai do cavalo. Eu brinco sempre com ela dizendo que eu passei anos fazendo denúncias que geraram até CPI e por causa da matéria dela ele foi exposto ao Brasil. Foi revelado ao país quem realmente ele é”.


Polêmicas


Em mais de 20 anos de CBF, Ricardo Teixeira se envolveu em inúmeras polêmicas e é acusado de estar envolvido no maior escândalo da história da Fifa, o chamado dossiê da ISL. O processo em andamento desde 2008 será avaliado pela Corte Federal da Suíça. Consta que há documentos comprometedores que colocam o nome de Teixeira na lista de dirigentes que podem ter recebido propina em negociação pelos direitos de transmissão de Copas do Mundo.




O ex-presidente da CBF era cotado para substituir Joseph Blatter na presidência da Fifa após a Copa de 2014. Entretanto, com as acusações perdeu força.




No Brasil, Texeira enfrentou duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso Nacional. No entanto, a conquista do pentacampeonato pela seleção no Mundial de 2002 ajudou o mandatário a ganhar novas forças e continuar à frente da CBF, cumprindo mandato que iria até 2015, graças a uma manobra no estatuto da confederação.




Atualmente, Ricardo Teixeira era alvo de denúncias de irregularidades no comando do futebol brasileiro e estava sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de crimes de remessa ilegal de dinheiro ao Brasil e lavagem de dinheiro.




As últimas denúncias apontavam ligações de Teixeira com a Ailanto, empresa investigada pelo superfaturamento no amistoso entre Brasil e Portugal, realizado em 2008, e que custou R$ 8,5 milhões aos cofres públicos.

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