terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Região Serrana do Rio ainda sofre efeitos do maior desastre climático do Brasil

Do JN



Há exatamente um ano, o Jornal Nacional mostrou as primeiras imagens, as primeiras informações daquela que se tornou a maior tragédia natural do Brasil. Mais de 900 pessoas morreram na Região Serrana do Rio de Janeiro. Um ano depois, os repórteres do Jornal Nacional voltaram às cidades devastadas para ver o que as autoridades fizeram, que ajuda os moradores receberam. A reportagem é de André Luiz Azevedo.

Um ano depois, o Vale do Cuiabá é um bairro-fantasma.

No ano passado, o cenário em Teresópolis era de guerra. Foi como se uma avalanche tivesse atingido a região. Agora o cenário de devastação ainda é o mesmo.

Nova Friburgo foi tomada por lama e muita destruição. Em alguns pontos, a lama sumiu. Mas as obras estão atrasadas. São muitos protestos contra a demora. Uma dona de casa acompanha da janela. “Está devagar, bem tartaruga”, conta.

“Todas essas obras deveriam ter sido feitas – projetadas e executadas – até novembro, no máximo. Agora é mais difícil, mais caro e mais arriscado”, avalia o professor de engenharia Alberto Sayão, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Um primeiro levantamento logo depois da tragédia na Região Serrana do Rio mostrou que 73 pontes foram destruídas. Só no distrito de Córrego Dantas, no município de Nova Friburgo, duas pontes foram levadas pelas águas em um pequeno trecho. Hoje, um ano depois, nenhuma delas foi reconstruída. Os moradores ainda têm que usar uma pinguela improvisada, que balança muito e dá medo.

“Não podemos ter medo porque é o nosso caminho. Estou com 79 anos e tenho que atravessar a ponte doente”, conta a aposentada Maria Moraes da Silva.

No distrito de Campo Grande, em Teresópolis, um dos principais cenários da tragédia, ainda há lembrança das famílias no meio das pedras. E o perigo ainda não acabou.

“Os morros estão dizendo: ‘eu posso cair’. Precisamos ter certeza de que esses morros vão cair ou não”, alerta o engenheiro Abílio Borges, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ).

O aposentado Casemiro Pacheco não sabe quando vai receber a nova casa. “Fizeram um projeto igual cinema, e vimos as casas. Mas foi só o projeto”, diz.

Em Petrópolis, no Vale do Cuiabá, onde a destruição foi maior, um grupo de empresários decidiu começar a agir por conta própria. São 61 casas.

“Nós já conseguimos levantar aproximadamente 50% dos recursos”, revela o empresário Luís Henrique da Silveira.

A promessa do governo do estado era dar início à construção das quase 6 mil novas casas em outubro do ano passado, mas as obras só começaram nesta quinta-feira (12). Das 73 pontes anunciadas, só uma foi erguida.

A recuperação das encostas não foi diferente. Das 170 apontadas como de alto risco, só oito passaram por obras, segundo o Crea-RJ. O governo do Rio contesta, diz que trabalha em 37 encostas.

E o que aconteceu com o dinheiro da tragédia? O Ministério Público faz uma denúncia.

“Há dinheiro que foi, em parte, desviado, na medida em que houve pagamentos a empresários por serviços que não foram prestados. Há dinheiro que se esvaiu nos ralos da improbidade administrativa em razão de superfaturamento de determinados itens. A população, tão penalizada pela tragédia, deixou – grande parte em razão desses desvios – de receber os benefícios que era para ter recebido”, ressalta o procurador-geral da República Marcelo Borges de Mattos.

O Ministério da Integração Nacional cobra o destino dos R$ 10 milhões repassados a Nova Friburgo. Até hoje a prefeitura não prestou contas. Na época da tragédia, foram muitas as visitas e as promessas das autoridades. Um ano depois, e diante de tão poucos avanços, o governo do estado diz que precisa de mais tempo.

“Acho que é importante ressaltar que esse é um processo que não para em um ano ou dois. É um processo que vamos levar mais tempo para reconstruir. Vamos começar a gastar o recurso que nós temos que está alocado e ainda não foi usado”, adianta o subsecretário da Região Serrana do Rio, Affonso Monnerat.

“O que nós temos a fazer é agarrar na mão de Deus e pedir força e que os homens se lembrem da gente”, diz dona Maria Moraes da Silva.

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