Depois de demitir sete ministros em quase um ano de governo, a presidente Dilma Rousseff está disposta a manter o titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, alvo de suspeita de tráfico de influência nas atividades de consultoria exercidas por sua empresa, a P-21. 'Resista!', ordenou a presidente ao ministro. 'Tem gente que sobrevive. Eu sobrevivi.'

Dilma determinou o contra-ataque na quinta-feira, ao lembrar que também foi duramente atacada por 45 dias, em 2009, quando era chefe da Casa Civil, mas provou a falsidade das informações. Na ocasião, uma ficha criminal inverídica - que chegou a ser publicada - dava conta de que o grupo de Dilma, militante de extrema-esquerda, teria participado de seis assaltos, entre 1968 e 1969. Na lista estavam roubos a bancos e o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, com cerca de US$ 2,4 milhões.

'Você bem sabe que eu nunca participei de ação armada nem dei um tiro', disse Dilma a Pimentel, segundo relato de auxiliares. Amiga de juventude de Pimentel, a presidente militou com ele no Comando de Libertação Nacional (Colina) e na Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares (VAR-Palmares), durante a ditadura.

Agora, Pimentel é o primeiro ministro da cota pessoal de Dilma a cair em desgraça. Todos os outros ou foram herdados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou indicados por partidos aliados. Na prática, nem mesmo a ala majoritária do PT queria que ele fosse ministro.

Clientes da empresa de consultoria de Pimentel firmaram negócios com a Prefeitura de Belo Horizonte, comandada por ele de 2003 a 2008, gerando suspeitas.

Embora o governo esteja preocupado com a exposição de Pimentel, a recomendação é para que ele não baixe a guarda. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que o Pimentel 'tem respondido com firmeza a todas as questões'. 'O importante é que ele tem o nosso apoio. É uma pessoa de muito respeito.' Nos bastidores do Planalto, o comentário é que as denúncias contra Pimentel partem de 'fogo amigo' na seara petista, em Belo Horizonte. Há quem identifique vazamentos de dados da Secretaria de Finanças.

A Prefeitura da capital mineira é comandada pelo PSB de Márcio Lacerda, tendo Roberto Carvalho, do PT, como vice. Ex-prefeito, o ministro coleciona brigas com seu partido. Em 2008, entrou em rota de colisão com a cúpula do PT por organizar o casamento petista com o PSDB do então governador Aécio Neves para apoiar Lacerda.

O confronto se repetiu no ano passado, quando ele disputou uma prévia com Patrus Ananias ao governo de Minas, venceu, mas abriu mão da candidatura para Hélio Costa, do PMDB, em troca da adesão do partido à campanha de Dilma. Em 2012, Pimentel quer apoiar a reeleição de Lacerda contra fatia do PT, comandada por Carvalho, que luta por candidatura própria.

Dossiê. No ano passado, quando integrava a coordenação da campanha de Dilma, ele também se indispôs com o grupo petista de São Paulo que brigava por mais espaço na equipe de comunicação e teve o nome envolvido numa guerra de dossiês.

Na edição de ontem, o Estado revelou que a principal financiadora da campanha de Pimentel ao Senado, em 2010, está na mira do Ministério Público de Minas. A suspeita é de superfaturamento em contrato firmado com a Prefeitura de Belo Horizonte na gestão do petista.

'Tudo faz parte de um jogo político', disse o ministro, que viajou ontem cedo para Buenos Aires, com o objetivo de participar de reuniões bilaterais com o governo argentino (leia abaixo).

A base governista conseguiu barrar a convocação de Pimentel para uma audiência na Câmara. A oposição pretendia cobrar explicações sobre a atuação da P-21 entre 2009 e 2010. Nesse período, a consultoria teria ganho aproximadamente R$ 2 milhões.