domingo, 29 de janeiro de 2012

FHC prevê forte luta interna no PSDB para enfrentar Dilma em 2014

Blog do Noblat

Trecho da recente entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à revista inglesa The Economist:

FHC – Na última campanha o PSDB cometeu equívocos enormes. No começo o favorito era nosso candidato ]José Serra], disparado. E em vez de organizar alianças – porque é mais fácil criar alianças quando se está por cima, porque os partidos querem estar junto com o vencedor, como eu disse antes – nós não fizemos isso. Nosso candidato ficou isolado, até internamente.

Ficou isolado ou isolou-se? Ele afastou os outros?

Sim. E isso foi muito ruim. E apesar disso, Dilma foi para o segundo turno. E Serra teve 44%.

Só 44% contra alguém que nunca tinha sido cogitada para presidente antes…

Com Lula por trás. Seja como for, o que estou tentando dizer é que seria possível ganhar. Foi falha nossa.

Com o mesmo candidato?

Bem… talvez não.

Como o PSDB vai se unir ao redor de um candidato?

Tem que buscar a unidade interna. Eu diria que agora o PSDB está mais consciente da necessidade de se unir. Não é simples, porque o senso de coesão baseada em valores é menos forte que no passado. É mais uma questão de personalidades agora. E o mesmo se aplica ao outro lado. A última campanha deles foi nada, zero; as questões reais nunca foram levantadas. Foi um simulacro de campanha, com marqueteiros desempenhando o papel de atores principais, em vez de serem submetidos a alguma liderança.

Agora há vários pontos de interrogação. Qual será o papel de Lula? Eu diria que ninguém sabe, nem ele mesmo. Por causa da sua saúde [Lula tem câncer na garganta, com um bom prognóstico], mas não só por isso. Diria que normalmente Lula tentaria concorrer: ele é um animal muito competitivo, um animal político. E provavelmente a presidente Dilma não tem respaldo interno [em seu partido e nos parceiros de coalizão]. Se ele também tiver a mesma aspiração – não tenho certeza – será difícil para ela. Uma coisa é concorrer com Lula, outra é concorrer com outra pessoa, mesmo a presidente Dilma.

No caso do PSDB, o ex-governador Serra desempenha o papel de Lula: ele tem fibra, gosta de competir. Não sei até que ponto ele estará mais convencido que não é a vez dele, para dar espaço a outros.

Quem seria o candidato óbvio?

Aécio Neves.

Aécio pode ganhar?

Aécio é de uma cultura política brasileira mais tradicional, mais capaz de estabelecer alianças. Ele tem apoio em Minas Gerais [seu estado]. São Paulo não é assim, sempre se divide, é muito grande. As coisas vão ficar mais claras depois das eleições municipais [em outubro de 2012]. Provavelmente vamos ver uma forte luta interna no PSDB, entre Serra e Aécio.

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